Viva Cármen! Jogou a lei no lixo! Rebelde como a de Bizet!

Viva Cármen! Jogou a lei no lixo! Rebelde como a de Bizet!

É evidente que os outros ministros nada dirão porque querem, e devem, evitar uma crise. De resto, Cármen parece ter sido picada pela mosca azul

Cármen Lúcia está sendo quase unanimemente aplaudida por ter, ao arrepio do Regimento Interno do Supremo, homologado as delações da Odebrecht. Ao fazê-lo, brinca de Luís 14 do STF. Ela sabe que tal atribuição é do relator do caso. Mesmo assim, resolveu dar azo a teorias conspiratórias, segundo as quais a operação estaria em risco.

Aí, numa ação combinada com Rodrigo Janot, Carmen transformou o Supremo num cartório da Procuradoria Geral da República. Ele entrou com um pedido de urgência, o que daria à presidente competência para fazer essa homologação de ofício. Acontece que basta ler o Regimento Interno do Supremo para saber que essa não é uma das atribuições do ministro plantonista.

Sem dúvida, Cármen pode aspirar ao retrato das heroínas, mas todo mundo sabe no Supremo — e em qualquer ambiente em que se leva a lei a sério — que ela atravessou o samba. Mais: diminui a dimensão do futuro relator e lança sobre ele uma sombra de suspeição. E tudo isso de modo gratuito.

Ora, ninguém sabia quando Teori Zavascki faria as homologações. Ele voltaria ao trabalho nesta quinta. Não havia definido calendário nenhum.

É estupefaciente que, nesse caso, se parta do princípio de que havia uma data definida. Mais: que se parta do princípio de que ele homologaria todas as delações. Mais: que, salvo ele próprio e Cármen, ninguém mais tem legitimidade para ser isento nesse caso.

É evidente que os outros ministros nada dirão porque querem, e devem, evitar uma crise. De resto, Cármen parece ter sido picada pela mosca azul. Resolveu ser uma “presidenta” — o que prometeu que não faria.

E que se note: ninguém precisa ser muito sagaz — só um pouquinho já basta — para inferir que Cármen Lúcia homologou o que desconhece. Então 77 delações de conteúdo sabidamente explosivo são homologadas por um ato de ofício, de cambulhada? Com a devida vênia, não é Justiça, mas demagogia.

Novo relator Ora, no dia 1º, o Supremo volta ao trabalho. Suponho que a presidente da Casa já conversou com quem tinha de conversar e já deve ter imaginado um roteiro para definir o futuro relator. De quanto seria o atraso? De alguns dias — e isso na hipótese de que Teoria fosse despachar tudo logo de cara, o que é puro chute.

Mas Cármen Lúcia, ora veja, já pode ser a heroína destemida.

Acho que errou de novo ao manter o sigilo. E, nesse caso, contra manifestação expressa de Teori. Ele havia dito que derrubaria o sigilo tão logo fizesse as homologações. Ora, se ela sabia o que homologava, que, então, seguisse o relator original.

Mas não! Fez o despacho e manteve o sigilo, o que faz a alegria de vazadores e pistoleiros de toda sorte, que usam informações privilegiadas para especular — especulação mesmo, no mercado financeiro.

Cármen Lúcia está sendo tão elogiada por seu destemor em desrespeitar a Constituição que deve até ficar feliz em saber que eu a critiquei.

Tem a chance, assim, de desce à terra dos homens, já que, no momento, ocupa o Olimpo.

Ou, bem, eu a imagino pondo uma praça de Sevilha em polvorosa, ao som de “L’amour est un oiseau rebele”… Ah, um tempo para Maria Callas. Para Cármen, a Lúcia, a lei é um pássaro rebelde.

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