Governador do Maranhão está no lucro
O Maranhão dormiu com a notícia de que o governador do Estado está na lista de pessoas que receberam dinheiro da Odebrecht.
A história é contada por José de Carvalho Filho e o resumo é o seguinte: o deputado federal Flávio Dino era relator de um projeto de lei que era do interesse da Odebrecht. Ao ser procurado pelo pessoal da Odebrecht o deputado pediu e recebeu R$ 400.000 para ser usado na campanha de 2010, quando o deputado federal Flávio Dino foi candidato a governador.
Em suma, o atual governador do Maranhão é acusado pela Odebrecht, em delação premiada, de ter solicitada e recebido propina no valor de R$ 400.000. Para usar uma expressão utilizada por Roberto Jeferson para qualificar pessoa que pede e recebe propina tal como narrado, a Odebrecht acusa o governador do Maranhão de ter sido um deputado “petequeiro”.
Com envio do processo ao STJ e se o inquérito for instaurado, o governador poderá ser investigado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e o tal “caixa dois eleitoral”.
Em razão desse fato pode não acontecer nada (o arquivamento do processo), assim como pode o governador do Maranhão ser denunciado criminalmente no STJ.
Por improbidade administrativa o governador do Maranhão não pode mais ser acusado, pois o ilícito já prescreveu (o mandato de deputado federal que gerou o pedido de propina encerrou em 1. de fevereiro de 2011).
Sobre o fato do governador do Maranhão ter sido um deputado “petequeiro”, pelo menos para o caso concreto, dúvida não existe que os fatos estão muito bem estruturados (sem trocadilho), pois impossível que uma pessoa que não é do Maranhão lembre com tanta riqueza de detalhes reuniões que ocorreram há sete anos. Seria muito “azar” do governador que um delator volte 7 anos no tempo para selecionar um deputado federal da legislatura 2006-2011 para a ele imputar o ato e o deputado ser exatamente ele, o azarado do governador do Estado. Ai é trabalhar com o absurdo, contra a lógica.
O governador do Estado, por meio de manifestações na internet, televisão etc., deu início à sua defesa. A partir das manifestações, extrai-se algumas conclusões, a saber: o governador não nega as reuniões com o delator, soube com antecedência do conteúdo da denúncia (sempre ele a saber antecipada e ilegalmente do que ocorre em processos judiciais sigilosos) – embora tenha recebido a propina – não entregou a mercadoria comprada (o parecer na condição de relator) e, o que é o dado que é mais “chocante”, o ato comprado pela Odebrecht iria beneficiar um país comunista, no caso, a Cuba. Ou seja, ideologia é ideologia. Dinheiro é dinheiro.
Objetivamente, este é o quadro pintado a quatro mãos (José de Carvalho Filho e deputado federal Flávio Dino).
De outro lado, ter o nome na lista da Odebrecht como beneficiário de “caixa dois” para as eleições de 2010 é lucro para o governador do Maranhão.
“Prejuízo” existirá se se resolver investigar, também, como o dinheiro da UTC, da Odebrecht e da OAS foram parar na campanha de 2014 do atual governador do Maranhão.
Pior será se for investigado i) a gestão que o governador fez na Embratur, sobretudo as agências de publicidade e empresas de TI contratadas; ii) o custo e o financiamento da pré-campanha chamada de “Diálogos pelo Maranhão”, que durou um ano e envolveu grande estrutura de veículos e aeronaves, impressos, combustível, alimentação etc.; iii) o Mais Asfalto que já foi executado nas eleições de 2016 e o Mais Asfalto que está sendo gestado para ocorrer como preparação para as eleições de 2018 etc..
E nem se vai falar dos malfeitos diários na gestão do Estado, por absoluta ausência de espaço para enumerar todos.
Não é hora de fazer julgamentos antecipados, mas é fato público e notório que o governador do Maranhão entrou para a política pela porta larga da corrupção eleitoral (abuso de poder econômico e político). Nesse âmbito, bom para o governador contar com o silêncio de José Reinaldo, Humberto Coutinho e Cleomar Tema, já que convênios não falam.
Por ter estreado na política por estes meios talvez o governador do Maranhão não tenha resistido ao canto da sereia dos cofres da Odebrecht. Pelo menos é a história contada por José de Carvalho Filho. Outro dia publiquei no blog um texto com o título “Eu acho que vi um Cabral?” (http://pormim.com.br/2016/11/eu-acho-que-vi-um-cabral/). Hoje tenho certeza que temos um Cabral. E você, o que acha?
Certo é afirmar que o governador do Maranhão está no lucro se a investigação ficar só nos R$ 400.000 do “caixa dois eleitoral” da Odebrecht.
Enquanto não acontece nenhuma coisa e nem outra, e porque já chega o feriado da Semana Santa, o governador do Maranhão deveria esfriar a cabeça, esquecer um pouco a defesa nas redes sociais – que só tem piorado a situação dele – e chamar o deputado Levi Pontes para comerem um peixe, tranquilamente.