Escreve às terças-feiras,
a cada duas semanas.
Nesta crise, a gente tem que ir de santo e de turma de santos
Fernando Vivas/Folhapress | ||
Ruas do Pelourinho, em Salvador, decoradas para os festejos de São João |
Esta é minha última coluna do ano.
Minhas colunas nesta Folha têm sido, como me disse rindo Mario Sergio Conti, de um otimismo irritante e descolado da realidade. Kkkkk. Ele tem razão.
É que eu sou empreendedor, e o empreendedor opera no campo do milagre. E milagre é com a senhora, minha santinha.
Eu nasci no Pelourinho, em Salvador, e tinha seis anos quando ocorreu o golpe militar de 1964. O Brasil só saiu da ditadura quando eu estava saindo da faculdade. As chances matemáticas de eu estar aqui agora eram baixíssimas. Obrigado, minha santinha.
Empreendedor no Brasil tem que fazer milagre do milagre. Deve ser por isso que Abilio Diniz reza tanto e compartilhou conosco suas preces no seu novo e imperdível livro (“Novos Caminhos, Novas Escolhas”).
Nesta longa crise brasileira, a gente tem que contar com santa Terezinha, são Judas Tadeu, santo Expedito, santa Rita de Cássia… A gente tem que ir de santo e de turma de santos.
É claro que a gente tem que fazer a nossa parte: temos de ter resiliência, cortar os custos, modernizar os processos, fazer uma faxina no nosso “mindset” e trabalhar tanto quanto o João Doria.
Mas, por outro lado, temos que ter muita fé. Minha mulher é corintiana. E eu aprendi com ela a acreditar em gol no último minuto do segundo tempo.
Depois deste ano de “dois mil e dezechega”, 2017 vai ser uma década. E uma década duríssima. (Olha que beleza, Mario Sergio Conti, eu sendo pessimista.) E, a meu ver, a melhor forma de enfrentar o ano que entra é nos prepararmos para o pior.
Administrar hoje no Brasil é a gestão criativa do pessimismo.
No caso do nosso grupo, vamos juntar todas as empresas em um só prédio. Vamos economizar no aluguel, compartilhar despesas, reunir talentos, aproveitar bastante nossas sinergias e aprofundar a nossa cultura de excelência.
Não estamos inventando a roda. A Omnicom, nosso parceiro global, faz isso com muito sucesso em Londres, Los Angeles, Berlim. Portanto, vamos entrar em 2017 com uma tesoura de custo nas mãos e uma alavanca na outra.
Minha santa Terezinha do Menino Jesus, peço que o Brasil e seus filhos cheguem vivos e inteiros ao final de 2017. Que atravessemos essa pinguela e cheguemos bem em 2018.
E, como isso só pode acontecer com muita luta nossa e milagre vosso, eu recorro à senhora, minha santinha, na esperança de que esse pedido meu e de meus leitores seja atendido.
Durante boa parte dos dias deste ano, eu saí do meu escritório nos Jardins e fui até a sua igreja na rua Maranhão, em Higienópolis, onde assisto à sua missa das 19h e depois volto para trabalhar ou jantar com a minha família.
No turbilhão deste país de milhões de desempregados e juros estratosféricos, com milhares de empresas fechando todo mês e tantos clientes nossos sofrendo, esse encontro diário consigo, minha santa Terezinha, tem sido, para mim, um remanso e a providência divina que me ajudou a sair vitorioso de ano tão conturbado.
Sou um líder, tenho que comandar mais de 2.000 pessoas diariamente. Passar rumo, norte e fé. E, quando eu fraquejo, é a senhora, menina de 24 anos, fisicamente frágil e moralmente gigante, quem me coloca de pé e me faz seguir em frente, sem me deixar vergar.
Muita gente lendo isso vai achar cafona. Mas a felicidade é cafona.
E por isso, a vós entrego, minha santa das rosas, esse ano de 2017. Com suas pétalas, seus perfumes e seus tantos espinhos.